Dr. Marco Antônio Bomfoco
A narrativa do nascimento de Jesus possui profundo significado religioso e espiritual para cristãos em todo o mundo. A cena do menino na manjedoura tornou-se um símbolo universal de esperança, humildade e do poder de um começo simples. O recenseamento romano, uma realidade histórica, estabelece o cenário para a viagem de José e Maria a Belém. O contexto cultural e político da época molda a narrativa, ressaltando o cuidadoso enraizamento histórico dos Evangelhos.
Desvendar o pano de fundo histórico do encontro dos magos com Jesus em Belém, contudo, revela uma narrativa mais complexa. A história do nascimento, profundamente enraizada na tradição cristã, serve como um portal para as dimensões históricas e espirituais dos acontecimentos.
Algumas pessoas ainda acreditam que os magos vindos do oriente encontraram o recém-nascido Jesus em Belém da Judeia. No entanto, esse relato corresponde ao que realmente diz a Bíblia? Ao refletirmos se os magos de fato encontraram o recém-nascido em Belém, precisamos considerar o contexto histórico. A profecia de Miquéias 5:2 posiciona Belém como o local de nascimento do Messias durante o reinado de Herodes. Porém, ao examinarmos os Evangelhos, percebemos que Mateus e Lucas oferecem perspectivas distintas.
Mateus relata que Herodes enviou os magos a Belém após consultar os sacerdotes e escribas. Curiosamente, a ênfase de Mateus na “casa” - não na manjedoura - levanta questionamentos sobre as cenas tradicionais do presépio. Guiados pela estrela, e não pelo que ouviram da raposa em Jerusalém, os magos parecem ter encontrado Jesus em Nazaré, e não em Belém, o que desafia interpretações convencionais.
Já o relato de Lucas apresenta outra linha narrativa: José e Maria viajam a Belém por causa do recenseamento. A cena da manjedoura se desenrola quando os pastores encontram a Sagrada Família. Surge aqui uma distinção sutil, mas significativa: é Belém, e não Nazaré, o cenário do anúncio angelical e da visita dos pastores.
Os autores sagrados descrevem duas visitas que ocorreram em tempos e lugares diferentes. Primeiro, Lucas (2:16) afirma que os pastores encontraram Maria e José com o bebê deitado na manjedoura. Depois, Mateus (2:11) escreve que, quando os magos entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Vale notar que, em Belém, não havia lugar para José e Maria na hospedaria. A casa deles estava em sua cidade, Nazaré, na Galileia.
Ao resumirmos os eventos, com atenção aos detalhes cruciais, observamos:
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Relato de Mateus: os magos entraram numa casa e viram o menino com Maria.
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Relato de Lucas: os pastores encontraram Maria e José com o bebê na manjedoura.
Ao analisarmos os Evangelhos, identificamos dois momentos distintos: os pastores na manjedoura e os magos na casa. A ausência de lugar na hospedaria de Belém remete-nos a Nazaré, onde José e Maria possuíam residência. Esses detalhes, frequentemente ignorados, iluminam os contornos históricos da narrativa.
Além disso, o exame do texto grego original revela uma escolha intencional de palavras, diferenciando o recém-nascido (bréfos) do menino pequeno (paidós). Essa precisão linguística lança luz sobre os estágios da infância de Jesus.
Após quarenta dias, Jesus e Maria cumpriram a Lei de Moisés, apresentando o menino no Templo, como afirma Mateus 2:13, antes de retornarem a Nazaré. Contrariando algumas interpretações, a família não fugiu para o Egito antes da cerimônia no Templo, pois Lucas 2:39 declara que voltaram diretamente para Nazaré. Dentro dessa cronologia mais ampla, a apresentação de Jesus no Templo ocorre antes de qualquer possível fuga ao Egito, o que reforça a confiabilidade histórica do relato de Lucas.
Por fim, uma leitura cuidadosa revela que os magos do oriente provavelmente nunca visitaram Belém da Judeia, mas sim seguiram a estrela até encontrar o menino em sua casa, em Nazaré. Esses magos simbolizam os reis de todas as nações, que se prostrarão para adorar o Rei Jesus.

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